terça-feira, 19 de abril de 2011

Sonhos literários

Saudades das viagens literárias

Hoje já sou homem formado, 42 anos, meio caminho profissional concluído de forma elogiada, apesar de ainda ter muitos degraus a galgar, e tenho muito na vida acadêmica a aprender. Faz 20 anos que entrei em minha primeira faculdade, de lá para cá não concluí nenhum curso, apenas a certeza que um dia chegarei ao fim, pois no fim tudo dá certo (Olha Sabino aqui de novo)... Mas que saudade de meus sonhos literários, de minha adolescência, dos meus primeiros livros lidos com prazer e não por obrigação.
Cresci vendo meu pai ler Jorge Amado, Erico Veríssimo, Malba Taham, entre outros. Machado de Assis, José de Alencar, Aluisio de Azevedo, Raul Pompéia me dava tédio, que coisa chata, ler por obrigação. Por quê não viajar em 80 dias e dar a volta ao mundo? Mas não, tinha que ler Don Casmurro, e saber o que aconteceria com Iracema, fazer resumo, sinopse, data de entrega, senão era nota baixa na certa. Lia , lia, dormia sobre os livros, cobrança das professoras, mas gostava mesmo de saber o que Peter Parker iria fazer com Tia May, o Duende Verde voltaria? Bruce Banner encontraria a paz?
Aprendi a gostar de resolver problemas de Schaum, eletromagnetismo era minha praia, mas adorava mesmo viajar nos casos de Poirot, navegar no Nautilus, escalar o Monte Olimpo, conhecer os mistérios do centro da terra, quantos casos não iniciaram suas análises na 221B Baker Street... Que saudade de minha adolescência. Não é saudosismo no significado literal da palavra, mas a saudade do prazer e da descoberta de novos mundos pelos livros.
Problemas de Schaum, eletromagnetismo, Hélio Creder, instalações elétricas e viagens noturnas nas receitas de D. Flor. Eduardo encontrava-se em crise existencialista, afinal fora o escolhido... ”não soube escolher, fui escolhido. Pois agora agüenta a mão rapaz. Não vai chorar mais não, que não adianta...”, acredito mesmo que ele provasse do doce sabor da laranja-lima não encontraria a paz que buscava.
Vieram as crônicas, não as de Narnia, mas sim as do cotidiano, contadas de forma alegre, parece até que acontecera comigo. Descobri os segredos da vida privada, as comedias para se ler na escola, vi um homem nu desesperado pelos corredores do prédio pagando a prestação de sua televisão, já li e depois escrevi uma carta ao diretor de uma empresa telefônica, ri do botafoguense declarar sua gratidão ao Flamengo.
O mestre Carlos Drummond de Andrade ensinou-me a ler poesia, incentivado pelo poeta do rock urbano Renato Russo, Bandeira se mostrou vivo, pensei em viajar para Passárgada.
De repente tomava todas com Quincas Berro D’Água, Brás Cubas ficara interessante, acontecia algo em Antares (mortos-vivos passeiam tranquilamente). Uma doença estranha estava ameaçando toda a população de Nova York, descobri Robin Cook que estranhamente me fascinou, até pensei em virar médico. Mas a história de um encontro marcado, aha esta sim me cativou... “Ele faria da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”, diacho: Por que Eduardo era indeciso e se parecia tanto comigo?
Poe foi meu guia pelo imaginário do suspense, o terror psicológico, seria muito interessante uma conversa de bar entre Poe,Verne e obviamente eu. Claro, estaria lá apenas a beber da fonte do conhecimento.
Tornei-me mais adulto do que deveria, mais profissional do que gostaria, mais sério do que necessito. Hoje minhas leituras me deixam saudosista, vivo afogado em normas técnicas, ABNT é minha parceira de horas vagas, o MTE e suas NR’s me obrigam a descobrir o “nexo causal” de minhas responsabilidades civis decorrentes de minhas atividades profissionais... Quanta saudade de minha adolescência.
Abrirei a “Janela de Euclides” para aos poucos descobrir que a história do Universo foi construída sobre os ombros de gigantes e cabe dentro de uma Casca de Noz,não cederei ao lado negro da força, sei que ainda posso sonhar, nem que seja pelo olhar e imaginação de Bruna Sá.

Nada a fazer

Já dizia o pai de Fernando Sabino:
"— No fim tudo dá certo...— Se não deu certo, é porque ainda não chegou no fim."

Pois é, tenho certeza que ainda tenho muito por fazer, viver, aprender, caminhar, escrever, mesmo que me sinta com vontade de nada fazer. Ainda assim farei algo, pois para mim o fim ainda não chegou e não marquei data para que ele chegue, aos poucos as coisas vão se acertando, mas não pode-se acertar de vez, pois levando-se a lógica que no "fim tudo da certo", teríamos que ter chegado ao fim e ainda não chegamos para se acertar tudo.
O que é o tudo?
Talvez seja o que procuramos acertar e ficar em paz, sentir-se em paz, deitar a cabeça no travesseiro, no colo de alguém e sentir-se em paz, o fim é saber que estamos em paz.Ainda vou errar muito, ensinar muito, viver muito e quando o fim chegar estarei em paz.
Fernando Sabino foi um grande escritor , mas quando colocou esta frase do Seu Domingos em uma de suas cronicas sacaneou bastante, nunca viajei tanto em uma frase como esta.
Quando chegar tudo a dar certo é porque chegou ao fim, mas o fim acaba com tudo e não terá muito importância se deu certo ou errado, tanto faz. Mesmo assim se as coisas ainda não se acertaram é porque nem próximo do fim estamos chegando, portanto tudo pode mudar e o fim ser diferente do que pensamos mesmo que dê certo de alguma forma torta.
Então não vamos nos preocupar com nada e apenas viver, pois no fim tudo vai se encaixar e se ajustar.
Mais frases de Seu Domingos:
" As coisas são como são e não como deviam ser. Ou como gostaríamos que fossem.
O que não tem solução, solucionado está.
— Mais vale um apertinho agora que um apertão o resto da vida.
— Negócio demorado acaba não saindo.
— Dinheiro bom em coisa boa.
— Antes de entrar, veja por onde vai sair."

Esta é minha, inspirada nas palavras de Fernando e Domingos Sabino:

"Melhor ser confuso na vida, do que ser compreendido facilmente na morte.
Pelo menos serei lembrado ainda quando vivo."

Feliz pascoa a todos.

25 anos

Caramba, como o tempo passa tão depressa. Lá pelos idos de 1985 ou teria sido 1986 , exatamente perto da Semana Santa, fazia então o curso de Eletrotécnica no Centro Interescolar Áureo de Oliveira Filho, Escola Técnica de Feira de Santana. Nesta época o nosso maior pesadelo tinha nome, feição , forma , era bem real: a disciplina de Física e seu professor, também conhecido como "Fu Manchu", ou simplesmente Fernando. Já tínhamos resolvido quase 1/4 do livro de física de Schaum, alguém , não sei quem nos deu a dica: "Resolvam Schaum e se darão bem na disciplina de Fernando."
A prova seria na terça-feira, sexta-feira "santa" e lá estávamos nós estudando feito doidos, já era de tarde, depois do almoço, cada um havia almoçado em suas casas e estávamos na casa de Toninho estudando, ao total erámos 5 , não o livro mas em adolescentes malucos, querendo nos livrar de Fernando.O importante era tirar nota boa logo no inicio do ano, assim chegaríamos ao final do ano, com poucas preocupações.
Passamos a tarde toda e boa parte do inicio da noite resolvendo exercícios, a prática leva a perfeição, assim pensávamos e realmente a prática em Matemática e Física leva a compreensão. Pois bem, lá pelas quase 22 horas estávamos exaustos, já cansados, exauridos, estressados e ainda preocupados como seria a prova do tão afamado Professor Fernando. O melhor naquele momento seria parar, descansar, tomar uma cervejinha e dormir, mas eis que chega Sérgio irmão de Toninho, meio bêbado e nos chama para sair. O que tínhamos a perder? Nada! Vamos sair, espairecer, relaxar, tomar umas cervejinhas e esquecer o pós-estresse da prova de Física. Pois bem, para aonde Sérgio nos leva: para o Brega, isto mesmo, a Zona,a Casa das Meninas...
Chegamos lá, poucas meninas, na verdade tinha apenas uma , afinal era Sexta-feira Santa, conversa vai, conversa vem, umas cervejas, e Sérgio doidão, queria por que queria transar, mas a menina nada, dizia ela: Oxi, hoje é dia Santo, a gente faz isto não." Quase todo mundo meio bêbado, Sérgio meio que tarado e querendo agarrar a "menina" à força, a gente ( eu, Xampu e Gilson) só fazíamos rir e beber, em certo ponto Sérgio arriou sua calça e disse para a menina:
"Porra , quero mais não. Não vai funcionar mesmo, olha como esta..."
Foi uma das cenas mais hilárias que presenciei. Já faz mais ou menos 25 anos que ocorreu isto, e ainda lembro de cada cena, de cada imagem e até da prova de Fisica, por sinal quem estudou junto naquele ano, conseguiu passar e passar bem na disciplina de Fernando, e ele foi a contra-gosto, segundo consta a lenda, aplicou as maiores notas em sua disciplina até aquela data. Nos demos super bem.
Passados 25 anos, estamos cada um em rumos diferentes, mas acredito que as lembranças de um passado divertido e experiências saudáveis contribuiu para nossa formação atual.
Abraços...