Saudades das viagens literárias
Hoje já sou homem formado, 42 anos, meio caminho profissional concluído de forma elogiada, apesar de ainda ter muitos degraus a galgar, e tenho muito na vida acadêmica a aprender. Faz 20 anos que entrei em minha primeira faculdade, de lá para cá não concluí nenhum curso, apenas a certeza que um dia chegarei ao fim, pois no fim tudo dá certo (Olha Sabino aqui de novo)... Mas que saudade de meus sonhos literários, de minha adolescência, dos meus primeiros livros lidos com prazer e não por obrigação.
Cresci vendo meu pai ler Jorge Amado, Erico Veríssimo, Malba Taham, entre outros. Machado de Assis, José de Alencar, Aluisio de Azevedo, Raul Pompéia me dava tédio, que coisa chata, ler por obrigação. Por quê não viajar em 80 dias e dar a volta ao mundo? Mas não, tinha que ler Don Casmurro, e saber o que aconteceria com Iracema, fazer resumo, sinopse, data de entrega, senão era nota baixa na certa. Lia , lia, dormia sobre os livros, cobrança das professoras, mas gostava mesmo de saber o que Peter Parker iria fazer com Tia May, o Duende Verde voltaria? Bruce Banner encontraria a paz?
Aprendi a gostar de resolver problemas de Schaum, eletromagnetismo era minha praia, mas adorava mesmo viajar nos casos de Poirot, navegar no Nautilus, escalar o Monte Olimpo, conhecer os mistérios do centro da terra, quantos casos não iniciaram suas análises na 221B Baker Street... Que saudade de minha adolescência. Não é saudosismo no significado literal da palavra, mas a saudade do prazer e da descoberta de novos mundos pelos livros.
Problemas de Schaum, eletromagnetismo, Hélio Creder, instalações elétricas e viagens noturnas nas receitas de D. Flor. Eduardo encontrava-se em crise existencialista, afinal fora o escolhido... ”não soube escolher, fui escolhido. Pois agora agüenta a mão rapaz. Não vai chorar mais não, que não adianta...”, acredito mesmo que ele provasse do doce sabor da laranja-lima não encontraria a paz que buscava.
Vieram as crônicas, não as de Narnia, mas sim as do cotidiano, contadas de forma alegre, parece até que acontecera comigo. Descobri os segredos da vida privada, as comedias para se ler na escola, vi um homem nu desesperado pelos corredores do prédio pagando a prestação de sua televisão, já li e depois escrevi uma carta ao diretor de uma empresa telefônica, ri do botafoguense declarar sua gratidão ao Flamengo.
O mestre Carlos Drummond de Andrade ensinou-me a ler poesia, incentivado pelo poeta do rock urbano Renato Russo, Bandeira se mostrou vivo, pensei em viajar para Passárgada.
De repente tomava todas com Quincas Berro D’Água, Brás Cubas ficara interessante, acontecia algo em Antares (mortos-vivos passeiam tranquilamente). Uma doença estranha estava ameaçando toda a população de Nova York, descobri Robin Cook que estranhamente me fascinou, até pensei em virar médico. Mas a história de um encontro marcado, aha esta sim me cativou... “Ele faria da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”, diacho: Por que Eduardo era indeciso e se parecia tanto comigo?
Poe foi meu guia pelo imaginário do suspense, o terror psicológico, seria muito interessante uma conversa de bar entre Poe,Verne e obviamente eu. Claro, estaria lá apenas a beber da fonte do conhecimento.
Tornei-me mais adulto do que deveria, mais profissional do que gostaria, mais sério do que necessito. Hoje minhas leituras me deixam saudosista, vivo afogado em normas técnicas, ABNT é minha parceira de horas vagas, o MTE e suas NR’s me obrigam a descobrir o “nexo causal” de minhas responsabilidades civis decorrentes de minhas atividades profissionais... Quanta saudade de minha adolescência.
Abrirei a “Janela de Euclides” para aos poucos descobrir que a história do Universo foi construída sobre os ombros de gigantes e cabe dentro de uma Casca de Noz,não cederei ao lado negro da força, sei que ainda posso sonhar, nem que seja pelo olhar e imaginação de Bruna Sá.
3 comentários:
Sempre gostei das coisas que vc escreve, não pare tem muitas viagens para vc fazer, me convide irei com vc para aonde vc quiser me levar, te tudo.
É SEMPRE BOM SABER QUE ALGEM ACREDITA EM MIM,VOU FAER DE TUDO PARA TE ALEGRA VC ACREDITA NOS MEUS SONHOS...
Você está de parabéns, os seus escritos, suas histórias, elas têm vida, emoção e muita nostalgia.
Que seu caminho literário jamais seja abandonado. Deus continue te abençoando!
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